sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O SETOR FINANCEIRO E A RESPONSABILIDADE SOCIAMBIENTAL

O SETOR FINANCEIRO E A RESPONSABILIDADE SOCIAMBIENTAL
“O que fazemos por necessidade, devemos fazer parecer que foi por vontade nossa que fizemos”. (Maquiavel)
Os anos 70 marcaram a necessidade de se repensar os padrões de consumo e produção que impactavam diretamente o meio ambiente causando sua deterioração.
Face o fortalecimento dos movimentos ambientais nos anos 80 os Governos Nacionais começaram a incorporar novos instrumentos na condução de suas políticas públicas buscando a compatibilização entre crescimento e preservação do meio ambiente.
Desde então muitos setores foram pressionados a mudar métodos e processos para se adequarem às novas demandas da sociedade e aos padrões exigidos. Mais do que apenas ter a aceitação do exercício de suas atividades pela sociedade, as empresas, buscam uma diferenciação das demais. Um capital simbólico criado a partir da reputação assume um importante papel no diferencial competitivo. Portanto acumular capital reputacional torna-se objetivo maior em empresas de vários segmentos e dentre elas o setor financeiro.
Inobstante o setor financeiro não possuir um impacto ambiental direto, o mesmo não se pode dizer dos impactos indiretos, uma vez que o financiamento concedido aos seus clientes afetará diretamente o rumo do desenvolvimento sustentável ou não.
O impacto indireto é tão real que a própria legislação se incumbiu de regular tais atividades:
A Lei 9.605/98 estabelece que: “... as instituições financeiras, quando financiarem projetos e empreendimentos em desacordo com as normas ambientais vigentes, poderão ser responsabilizadas, solidariamente, por eventuais danos causados ao meio ambiente.”
A partir dessa mudança conceitual e das pressões implícitas e explicitas, o segmento financeiro viu-se obrigado a galgar novos rumos em busca do desenvolvimento sustentável, garantindo, assim, sua sobrevivência, bem como a de parte da sociedade: sejam eles seus clientes diretos ou indiretos.
Em resposta às pressões exercidas pelo movimento ambientalista houve a criação dos Princípios do Equador em 2003, representando uma das iniciativas globais mais importantes de auto-regulação do setor privado em relação a padrões e normas socioambientais. Diante dos Princípios do Equador, os bancos seguem critérios de avaliação de projetos com valores acima de U$$ 50 milhões, representando 97% do mercado mundial.
De extrema importância tal iniciativa, uma vez sua amplitude influencia o comportamento dos bancos, mas também tem se tornado referencia para todas as atividades produtivas de grande monta que dependem de financiamento privado.
O principal propósito dessas políticas é a incorporação de riscos ambientais e sociais quando da avaliação de um financiamento, uma vez que ao conceder um financiamento o agente financeiro esta a “patrocinar” o impacto sobre a sociedade e ao meio ambiente advindos do futuro projeto. Assim sendo há uma maior consciência dos riscos.
Se um crédito é concedido, por exemplo, para empresas do ramo petrolífero, há um alto risco de derramamento de óleo o que possivelmente irá gerar um passivo ambiental. Portanto ao “induzir” ou exigir que a empresa tenha um plano de gerenciamento de riscos, a financeira está a garantir não só a recuperação do crédito concedido, como o bem comum da sociedade e meio ambiente.
Os bancos chegaram à conclusão de que as questões ambientais e sociais não mais poderiam ser tratadas como se fosse apenas um problema alheio e agir isoladamente não seria o melhor caminho, portanto demonstrar liderança, e aplicação de praticas de gestão ambiental e responsabilidade social seriam o caminho para a diferenciação e manutenção no mercado.


Portanto a resposta dos bancos às pressões advindas do movimento ambientalista não ficaram restritas as ações reativas, uma vez que de uma necessidade criaram estratégias visando recuperar o poder de definição de regras e estruturas do mercado.
Em contrapartida o empresariado que depende do setor financeiro (difícil encontrar algum que não dependa), se vê em meio às exigências no tocante ao lado social e ambiental, fato este que os fazem, ou por vontade própria ou imposição, trilharem o caminho da responsabilidade Socioambiental rumo ao desenvolvimento sustentável. E a sociedade de forma geral só tem a lucrar...

Degmar Augusta da Silva